Era a manhã do dia 15 de novembro de 1953. Com grande paz interior, falecia na cidade do Rio de Janeiro, aos 60 anos de idade, o imortal poeta alagoano Jorge de Lima.
Nascido em União dos Palmares, jamais esqueceu sua terra querida onde as cenas de sua meninice ficaram gravadas em sua mente, servindo de inspiração para vários de seus poemas. A imagem do rio Mundaú sonolento no verão e bravio no inverno, quando cheio, carregava “as baronesas” e transbordava, lambendo as ruas e invadindo as casas. Jorge de Lima trouxe para a sua vida a doçura de uma infância feliz em União; o toque dos sinos, as cantigas dos cegos nas feiras, a festa de Santa Madalena. Formado em medicina tentou iniciar sua vida de médico em Maceió, logo partiu para o Rio de Janeiro onde possuía uma grande clientela. Suas obras já percorreram o mundo, seus poemas traduzidos em várias línguas, servem como temas para defesa de tese em inúmeras Universidades da Europa, dentro as quais destacamos: “Invenção de Orfeu”, “O Acendedor de Lampiões” e “Essa Nega Fulô”.
Em 1951, dois anos antes de sua morte, voltou para rever sua terra querida. Foi uma viagem sentimental. Arnon de Melo era o Governador do Estado.  Sendo seu afilhado e grande amigo, proporcionou-lhe, ao lado dos intelectuais da terra como Francisco Valois, todas as gentilezas possíveis.

Ao regressar ao Rio já demonstrava sinais da doença. Mesmo sentindo-se enfraquecido não deixou de escrever seus belos poemas, nem de frequentar seu consultório até que suas forças físicas não mais permitiram continuar. Jorge de Lima deixou na história da poesia brasileira um traço luminoso que não se apagará pela ação corrosiva do tempo. Sua vida e sua obra hão de garantir-lhe a presença na história de todas as gerações.
Eu e todos os demais membros da Academia Alagoana de Letras fizemos o maior esforço, tivemos o maior entusiasmo, para que a Casa de Jorge de Lima na praça Sinimbu, fosse concluída ainda este ano, realizando, assim, o grande sonho do notável Dr. Ib Gatto Falcão. E, felizmente, conseguimos. No próximo dia 1º. de dezembro às 19 horas, ela será entregue ao povo alagoano e visitantes brasileiros, para que conheçam todo o acervo grandioso do poeta que ali será exposto.
Aproveito este espaço para lamentar a partida para a eternidade do nosso caríssimo companheiro de Academia de Letras, o médico Gilberto Macedo, que doou sua grandiosa vida em prol da medicina e da cultura de Alagoas.
Jorge de Lima dizia que você não morre, mas tendo fé em Deus, você renasce. Assim, tanto Jorge de Lima como Gilberto Macedo e tantos amigos que sepultamos, estão renascidos ao lado Vitor Hugo costumava dizer: “Nada melhor do que um sonho para criar o futuro”. Assim também pensava Dr. Ib Gatto Falcão, notável cirurgião do passado e que ficou conhecido com o “Gigante das Alagoas”, pois passou toda a sua vida sonhando com grandes projetos para o bem estar dos alagoanos.  Muita coisa que Alagoas possui hoje, na área médica e educacional, foi idealização dele. Atualmente, com 96 anos, realiza amanhã o último sonho de sua vida: a Casa de Jorge de Lima, na Praça Sinimbu. Quando adoeceu, repentinamente, em outubro de 2007, fiquei com a imensa responsabilidade de substituí-lo interinamente. A Casa de Jorge de Lima pela qual ele tanto lutou, estava subindo, crescendo, e jamais poderia parar. Doada à Academia Alagoana de Letras pela então prefeita Kátia Born, com a aprovação unânime da Câmara de Vereadores de Maceió, encontrou no BNDES o seu grande agente financeiro.
E arregaçamos as mangas. Eu e um punhado de abnegados acadêmicos como Marcos Bernardes de Melo, Benedito Ramos, Enaura Quixabeira, D. Fernando Iório, Ricardo Nogueira, Luiz Nogueira, Tobias Medeiros, Solange Lages Chalita, Divaldo Suruagy e tantos outros que compõem aquela Casa, trabalhamos sem cessar até chegar ao fim. Foi imensa a colaboração da arquiteta Gardênia Nascimento e da Engenheira Fátima Melo, assim como da System Engenharia, responsável pela execução da obra. No final, o toque da museóloga Carmem Lúcia Dantas e de D. Tereza Lima, filha do poeta, deram o brilho à decoração da Casa. Está belíssima. E você, caro leitor, está convidado a visitá-la. O nosso atual presidente da Academia Alagoana de Letras D. Fernando Iório, tem muitos planos para dirigi-la ao lado do seu entusiasmado administrador Benedito Ramos e do seu diretor de eventos, acadêmico Ricardo Nogueira. Na Casa de Jorge de Lima teremos auditório, biblioteca, museu Jorge de Lima, salas de recepção, etc. Será um grande local para o encontro da cultura e do saber. Passando pela casa e passeando pelos seus belos salões, faremos uma prece de gratidão simbolizada nessa Casa, lembrando o médico que foi Jorge de Lima; recordaremos com saudade esse grande alagoano que encontrou nos versos o motivo de seus sonhos de poeta e ouviremos uma melodia de pássaro da manhã como um canto derradeiro de quem viveu cantando a vida.
Quando menino aprendemos a construir castelos na areia. Depois, construímos com nossos sonhos os castelos de nossas ambições e, assim, nos tornamos eternos construtores. Sejam quais forem às alternativas da vida, contemplemos cada dia que surge com o olhar da esperança e tentemos encontrar um sonho de vida ideal.

Link