Em Lisboa
mantive a palavra
almoçando contigo
na Praça do Comércio.
São de minha lavra
versos e anversos
– amado amigo -,
tu sabes
em pensamentos
incontroversos,
que serei contigo
em todos os cômodos
da quinta ou a céu aberto,
no sorriso ou no pranto
do nosso universo.
Conservo a postura
enquanto me exponho
nas plateias, na rua
com natural prudência
e estoica bravura,
agoniante ou inebriante
nua e crua,
sangrada jura sagrada
que não principia
e jamais recua.
Em elegantes summers
beijas o meu rosto
tuas mãos eu seguro,
dançamos um tango
no salão meio escuro,
defronte a lareira sentamos
em poltronas de veludo,
brindamos a Arcturo e
sua virgem filha Erígone,
injustiçados pelos deuses
ao provarem vinho tão puro.
Juro, não sou casto
mas não violo
o sétimo mandamento,
em tudo que faço
construo prazer abstrato
por clara prudência,
nada de nocivo infausto
perdido pecado venial
ínclita eloquência.
Discípulos de Platão,
homens ilibados, idealistas
que tributam culto a mulheres
sem rastros, marcas e pistas,
em restritos encontros
na quinta das falésias de Sintra
oculta das belas vistas.
Amado
queridíssimo amigo,
quantos cultos
a tão belas musas!
Entre brocados
de Veneza
e cristalinos lustres,
leves cortinas de seda
porcelanas Ming
lindas pinturas
belos estuques.
Lençóis de linho egípcio
travesseiros de penas
suntuosos bordados
perfeitas costuras.
Tapetes tecidos na Pérsia
raros móveis de ébano,
perfumes vindos de Francia
doces sutis fragrâncias.
Lembro Leonor
que suave frescor;
Beatriz, corajosa atriz;
Francisca, leiga e meiga;
Marina, leve castelhana;
Catarina, fiel tutriz;
Carolina, santa profana;
Ana, normalista serrana;
Mariana, flor meretriz.
Lembro
todas por todas
uma por uma,
todos os corpos
suma por suma,
as pedras de Carrara
a deliciosa espuma,
os frágeis gemidos
cócegas e plumas,
coloridos cetins
pétalas negras
liambas e macumas.
Melodias árabes
sambas de colônias,
verbetes sonoros
bocas pintadas
línguas molhadas
dançarinas risonhas,
taças de Veuve Clicqout
gambas, caviar
manha que ressona
e sonha.
Vez por outra sinto cheiros
que em minha roupa entranham
e sem o teu abraço,
oh, amigo,
até a mais vil insônia é estranha,
lendo teus envelopes e cartas
aquelas belas frases tristonhas,
sem fantasias ou máscaras
em noites solitárias
Enfadonhas.