Bem pequena eu já sabia muitas coisas sobre Edith Piaf, dado que tive curiosidade intelectual desde cedo, por volta dos meus 6 anos. A primeira ocorrência foi a seguinte: o afamado poeta, romancista, cineasta, designer, dramaturgo, ator, e encenador Jean Cocteau faleceu logo depois de tomar conhecimento da morte da sua grande amiga Edith.
A forte comoção provocou-lhe um infarto fulminante. Eu só tinha 7 anos, mas já conhecia uma das obras de Jean Cocteau: A BELA E A FERA, rodada em 1946, com máscaras e figurinos desenhados por Pierre Cardin. Eu tinha visto esse filme passando na televisão e fiquei muito assustada com certas cenas bem surrealistas: saindo das paredes, os braços animados segurando candelabros acesos; as estatuas vivas com seus olhares perscrutadores…
Visionei muitas vezes umas gravações dela cantando em programas auditivos. Seu jeito de interpretar as canções não me agradava, pois ela forçava demais na pronúncia dos “R”. Acontece que, pouco a pouco, fui me acostumando com sua interpretação visceral e passei a gostar do seu jeito bem teatral de se oferecer ao público.
Edith encomendava as letras para suas canções: umas alegres quando estava apaixonada por um novo amor. Dramáticas quando perdia um namorado, quando sofria de dor de cotovelo. Ela queria vivenciar no palco o que ela experimentava na carne, longe dos holofotes.
Quando estive a par da longa lista de amantes da Edith, fiquei pasmada. Ainda menina, eu acreditava que só as belas podiam atrair os homens. Eu não sabia que as feiosas tinham também seus truques para enfeitiçar os mancebos. Descobri a magia de Edith recentemente, vendo uma antiga entrevista dada por ela, poucos anos antes dela falecer em 1963.
Observando a entrevistada, fiquei impressionada ao perceber o quanto ela tinha uma ótima verve, um elã vital incrível, um charme, um borogodó fenomenal, um encanto no modo de se expressar, uma graça na hora de movimentar os braços. Suas mãos pareciam passarinhos girando em torno da sua cabeça! Ela era espirituosa, inteligente, perspicaz. Gozava de uma risada extremamente deliciosa. Rindo, ela se entregava completamente, de um modo sensual.
O que me chamou a atenção foi a beleza da sua voz. Muitas cantoras podem muito bem ter um timbre incrível na hora de soltar o gogó. Acontece que boa parte delas fica desinteressante na hora de se expressar falando. Esse era o caso da Gal Costa que possuía uma voz pastosa e uma conversa banal.
Pois a Edith tinha uma fala extremamente deleitosa. Esse era o segredo da Edith e, sabendo o quanto era capacitada intelectualmente, nem imagino o que ela devia sussurrar nos ouvidos dos amados para eles ficarem alucinados por ela!
PS: Piaf é o sobrenome de artista da Edith. Quer dizer “pardal”, na gíria francesa.