DECRETO LIBERTADOR
   12 de janeiro de 2024   │     7:52  │  0

Em seu clássico “Contos Tradicionais do Brasil” Câmara Cascudo na seção dedicada aos animais expõe o “Decreto Libertador”. Segundo Cascudo:” Existia um descontentamento muito grande. Inimizades degeneravam em consequências prejudiciais. No reino animal entendia o leão que poderia acabar com esse estado de coisas baixando um decreto. Um decreto que viesse regular a vida — e que acabasse com as competições”.


O leão, o rei dos animais não aguentava mais tantas reclamações que chegavam de todos os lados. Das eternas confusões e intrigas, decidiu baixar um decreto acabando com todas as desafeições. E o boato se espalhou rápido entre os animais que nesse tempo falavam. Nisso, o galo acabava de cantar saudando o dia que nascia e pensou em baixar do poleiro, mas avistou a raposa que vinha se aproximando.
Ao invés da raposa se esconder e aguardar a noite chegar para tentar pegá-lo, ela se aproximou em plena luz do dia e amistosamente puxou papo com o galo “Desça daí compadre! Agora e daqui pra frente estamos todos em paz e harmonia, é festa pra tudo quanto é lado por onde passei! O rei baixou um decreto acabando as malquerenças! Desça daí que eu lhe mostro o decreto! ”Nisso, o galo viu um cachorro gigante que vinha correndo em direção à raposa.
Diante daquele vulto insólito e disposto à violência, língua e dentes de fora, a raposa disparou, levantando poeira: pernas pra que te quero! Atrás seguia o cachorrão pega não pega. É quando o galo usando toda a força de seus pulmões lembrou de gritar: “Comadre raposa, mostre o decreto a ele. Você não disse que as inimizades se acabaram? Pare de correr tanto, mostre o decreto comadre!”.
Essa fábula se repetiu no Brasil dos últimos anos, reforçada pelas fake news das redes sociais: um leão logo depois de eleito pela urna eletrônica propalou que as urnas eletrônicas eram fraudulentas, que o comunismo ia se instalar no país e iam fechar as igrejas, que iriam implantar um tal kit gay nas escolas. Até quando surgiu a pior pandemia dos últimos 100 anos alardearam que as vacinas — que preveniam da letal virose que matou 740 mil brasileiros — transformavam todos em jacarés, fato que desgostou muito essa mal compreendida espécie.
Depois, com as eleições sendo vencidas pelos adversários, eles urdiram um “Decreto libertador “: ocuparam as portas dos quarteis do Exército pedindo golpe militar, bloquearam as estradas e impediram a circulação até de ambulâncias, invadiram a sede da Polícia Federal; atacaram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. Fartas foram as omissões, leniências e cumplicidades, que se fossem corrigidas previamente e legalmente poderiam ter evitado que mais de mil fossem presos e processados, muitos dos quais foram vítimas inocentes que acreditaram nas fake news que as redes sociais disseminaram.
Um cristão puro exclamou:” Eu só aceito um ditador, só aceito um salvador da pátria: Jesus Cristo e só Ele quando voltar pra Terra!”, no que um outro retrucou: “Ele já veio e o crucificaram, se Ele voltar vão fazê-lo novamente!”. Nações como Israel, anualmente reverenciam a tragédia do Holocausto. O Brasil precisará todos os anos reverenciar o 8 de janeiro, sem alardes, sem perseguições e sem impunidades, mas com respeito e dignidade salientar a resistência e a resiliência da democracia nacional.
Marcos Davi Melo
Médico e membro da AAL e do IHGAL

About Marcos David Lemos de Melo

Nascido em Palmeira dos Índios em 03/12/1949. Médico especialista em Radioterapia pela Sociedade Brasileira de Radioterapia /AMB. Chefe do Serviço de Radioterapia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Professor Titular de Oncologia da UNCISAL, aposentado. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia.1º Secretário da Mesa Administrativa da Santa Casa de Maceió. Membro titular da Academia Alagoana de Letras, com acento na cadeira de número 26. Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Membro Fundador da Academia Alagoana de Medicina. Livros Publicados: Pelos Caminhos da Vida; O Pinto No Passo; Pedacinhos Coloridos de Saudades; Os Sete Coqueiros. Articulista de Gazeta de Alagoas, desde 1990.

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