INSONE E INSANA
Insone e insana,
Penso em teus olhos de brasas
Tuas mãos de tenazes
Teus pés de asas
Que cedo voaram para longe de mim,
Deixando em meu peito
Saudades sem-fim.
Vou cantar um rondó
Uma canção napolitana
Um verso perfeito
Palavras escolhidas.
Para ver se assim
Teus olhos de brasas se lembrem,
E teus pés alados
Retornem para mim…
SÓ PARA MIM
Escrevi…
e escrevi por escrever.
Para saber que estou viva…
Poemas, cantigas de amor
Para pôr fim a essa dor
De viver sem entender.
Escrevi e escrevo,
Só por mim
Para mim,
Para meu prazer.
Para ouvir a palavra,
Decifrar o sentido
Fazer vibrar a emoção
Da sonoridade escondida
Em cada silaba
Distinto som de palavra
A ser decifrada, destilada
O intenso e insano desafio
De esconder a lucidez
Em cantantes versos
Que parecem sem sentido.
FIEL OBSERVADORA
Levantou-se devagar da cadeira de balanço, já não tem a agilidade de antes. pigarreou levemente, a garganta ficou mais seca de uns tempos para cá.
Andou até a varanda de sua casa, sentindo o mormaço do mês de janeiro, intenso e irritante.
Caminha. Observa uma babosa -de – pau, suas folhas de verde profundo amarelam na base, pensa: Ela não está bem.
O observar das plantas e adivinhar suas necessidades, aprendeu com o tempo de convívio com seu pequeno jardim.
Anda devagar, faz uma inspeção em cada canto.
Mora só, essa circunstância lhe transmite uma sensação de liberdade e paz, que a acompanha faz alguns anos.
Essa liberdade é de tal maneira necessária para seu viver, que não trocaria por nada…
OS SINOS DO VENTO
O vento que sopra ê morna, nem chega a refrescar, mas, agita os sinos de vento. Entre os arbustos o vento sussurra e levanta poeira, ê relaxante esse murmúrio, bom de se ouvir. O movimento é vida, dinamismo, mudança, é revigorante. Os sinos de vento trazem ao balançar um toque de alegria, deixam um mistério no ar, sonoro mistério de inexplicável sussurro de cristais que se entrechocam e retinem como mil sinos de catedrais distantes.
Senta novamente relembra o primeiro namorado, a descoberta de sentimentos que a época lhe parecia profundos e que jamais sentiria nada igual. O tempo lhe mostrou que estava enganada, que nossos sentimentos amadurecem e se tornam mais exigentes a cada ano que vivemos.
Aliás o tempo, essa invenção dos homens, que o criaram para ao contar as mudanças da lua, o nascer e o pôr do sol, assim pudessem se situar no espaço-tempo em que estavam inseridos, é linear e continuo; contém nele toda trajetória da humanidade. História perdida entre o primeiro homem existente e nós.
Assim relembrou o segundo namorado, aquele que lhe deixou sem uma palavra de adeus, e que, ainda lembra dele, e quantas vezes sonhou com sua volta. No entanto, agora, nem por ele trocaria esse momento de solidão e liberdade de ser ela mesma.
Pensa, quantas vidas já viveu, quantas emoções, sentimentos. Fracassos, vitórias, trabalho duro.
Muito cedo a vida lhe cobrou responsabilidades, estudo continuo, obrigações que não foram um peso, pois traziam alegria única, sentimento de solidariedade e de plenitude.
Agora observa a calma quente e seca do meio dia, a quietude da natureza ao seu redor.
Agradece contrita e comovida o milagre continuo da vida.
Sorri satisfeita pensando em novas experiências, em viver essa fase prestando mais atenção a cada momento, vivendo plenamente e apreciando com gratidão o presente diário de estar aqui e agora consciente do mundo ao seu redor.
Viva a VIDA!!!