GIBI NÃO É LITERATURA
   26 de abril de 2023   │     4:01  │  3

Usando esse argumento, James Akel, concorrente a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras tentou minar a candidatura de seu adversário, o conhecido e carismático cartunista Maurício de Souza criador de personagens como Mônica e Cebolinha. A polêmica se tornou um dos assuntos mais discutidos nas redes sociais e em outras mídias. Enquanto isso era noticiada a vitória de Heloisa Buarque de Holanda que venceu com 34 votos.

Durante esse tempo o tema foi sugerido no grupo da Academia Alagoana de Letras, no WhatsApp e tivemos uma ótima participação com pareceres bastante fundamentados alguns deles assinados por professores de literatura, acadêmicos e convidados. O resultado final é uma publicação única com o parecer de cada um.

ESQUADRINHANDO OS QUADRINHOS

Conceituar o que é ou não literatura às vezes é complicado. Pra mim, pra haver literatura tem que haver ARTE, arte literária. Temos inúmeros livros de poemas que eu não considero literatura, porque não têm arte, não têm literariedade, ingrediente indispensável pra ser considerado como tal. Da mesma maneira a prosa, a ficção, seja romance, conto ou crônica, para ser literatura tem que ter arte, qualidade, ou não serão literatura, mesmo publicados como tal. Na realidade este é um conceito aparentemente abstrato, mas que pode ser comprovado pelos estudos literários.
Assim sendo, a minha opinião, pensando a partir dos estudos sobre literatura infanto-juvenil, considero, sim, as histórias em quadrinhos como literatura, com uma ressalva: desde que tenham qualidade que permitam serem chamadas de arte. E este é o caso dos quadrinhos de Maurício de Souza, um ícone para toda uma geração de crianças brasileiras. É o que penso.HELOISA MELO

PROVOCAÇÃO EXITOSA

Ramos amigo sua provocação foi exitosa.
Foi apresentada as histórias em quadrinhos ainda muito criança quando minha mãe comprou a revista Tico-tico, tinha eu apenas 3 anos de idade e ainda hoje lembrou dos personagens: Reco-reco, Bolão e Azeitona.
Essa iniciação levou-me leitura dos livros infantis e nunca mais parei de ter esses amigos que nos enriquecem a vida é muitas vezes consolam YARADIR SARMENTO

*Cartoon é literatura?*

Em 2016, o cantor e compositor americano Bob Dylan ganhou o Prêmio Nobel. Em 2022, Gilberto Gil, também cantor e compositor, entrou para a Academia Brasileira de Letras; e, agora, Maurício de Souza, autor e criador dos quadrinhos de Mônica e Cebolinha, pleiteia fazer parte do grupo dos imortais da academia. Quem vem reparando nisso tudo vem tendo a certeza de que muita água rolou debaixo da ponte que une as Letras às letras… das canções e das revistas infantojuvenis.
Manuel Bandeira, que compôs o “Poema tirado de uma notícia de jornal”, que focalizava a vida sem graça de João Gostoso, morador de uma casa sem número no morro da Babilônia, casou sua poética com o Modernismo triunfante dos anos de 1920, que reclamava a incorporação do elemento popular à poesia, Esta, nos fins do século XIX, só queria saber de leques, vasos gregos e ornamentos raros, e não suportaria ver em versos celebrado esse tal de João Gostoso, que terminou se atirando na Lagoa Rodrigo de Freitas e morrendo afogado.
Agora ouvimos dizerem que o cartoon também é literatura.
Quem decide o que é e o que não é não é nenhuma academia. É o gosto de um tempo, é a sintonia com o público que considera como literatura a charge, os textos gráficos, as letras de canções. O público decide. Se o poema de Bandeira não seria literatura sob o olhar severo e elitista dos poetas do Parnasianismo, passou a ser, pela óptica do Modernismo, que arrefeceu e diluiu os gelos de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira.
Ora, meus queridos, os tempos passam e, com eles, passam também os conceitos, os rigores de uma época que foi e não volta mais. Assim é a vida…
O cartoon não é necessariamente considerado literatura, mas do jeito como os gêneros textuais vêm se cruzando – por exemplo, nos romances de Lourenço Mutarelli, há textos, ilustrações, gráficos -, que daqui a pouco o cartoon, ele mesmo, vai ser considerado texto literário sem nenhuma restrição à classificação. As coisas estão mudando muito, e não é de hoje. Truman Capote, em 1966, escreveu _*A sangue frio*_, um relato policialesco que nasceu com intenções jornalísticas e logo foi avaliado como romance. O próprio Euclides da Cunha, em 1902, com _*Os sertões*_, que ele compôs para ser um relato jornalístico e ser publicado em jornal, hoje já está devidamente enquadrado na categoria de “texto de fronteira”, aliando linguagem jornalística, científica e literária. Enfim, o cartoon deverá mesmo, assim como esses que acabei de citar, ser considerado literatura, assim como os gibis e as letras das canções populares. E por quê? Porque todos esses tipos de textos se servem do trabalho da ficção. É o discurso ficcional que, tomado como critério de definição de literatura, cria um bom argumento para tal classificação. E aí, gostem ou não, pouco importam a origem do texto e intenção de quem compôs o artefato. Afinal, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como disse o outro. ROBERTO SARMENTO

Ufa, desculpem o extenso depoimento, mas acho que existem quadrinhos que são gostosos de ler e podem auxiliar na sensibilização para a literatura , principalmente das novas gerações

Boa noite. Prezado Benedito,as opiniões das nossas mestras Lole, Vera e Edilma já foram suficientes e muito capacitadas, mas pessoalmente gosto muito de quadrinhos e os leio regularmente para descontrair na cama antes de dormir e alivia a vista cansada…Temos uma grande oferta atualmente no mercado , de todos os tipos, desde clássicos da literatura bem adaptados, o que é interessante para estimular crianças e adolescentes ao hábito da leitura ( Grandes Esperanças de Dickens,Guerra e Paz de Tolstoi e até Kafka na pena cruenta de Robert Crumb) , temos bons autores nacionais como Adão Iturrusgarai, alguns veteranos do Pasquim ainda desenhando, como o Jaguar, o Millor Fernandes , o Henfil, temos uma interessante adaptação de Spacca da obra de Lília Schwarz “D. João Carioca “, temos a Mafalda do portenho recém falecido Quino, o Garfield do Jim Davis . Existe um clássico dos quadrinhos “Persepolis” da refugiada iraniana Marjane Satrapi, um retrato em preto e branco do processo de teocratização radical do Irã, e tenho ainda os meus preferidos, entre os quais todos os Graphic Novel de Will Eisner , judeu norte-americano de imenso talento, inclusive uma de suas obras “O Complô, História Secreta dos Protocolos dos Sábios do Sião”, é considerada uma das melhores adaptações do célebre processo de desinformação histórico do anti-semitismo . Gosto bastante de alguns de história, como o delicioso “ A Incrível História do Vinho” de Benoist Simmat e Daniel Casanave, e “ A Incrível História da Medicina “de Jean-Noel Fabiani & Philippe Bercovici e a “ História da Música em Quadrinhos “ de Bernard Deyries,Denys Lemery e Michael Sadler, esses dois últimos são ótimos para curtir com as netinhas. Ufa, desculpem o extenso depoimento, mas acho que existem quadrinhos que são gostosos de ler e podem auxiliar na sensibilização para a literatura , principalmente das novas gerações , as nossas mestras tem toda a razão. MARCOS MELO

Partindo para o bom combate da História em quadrinhos

Querido Benedito , bendito seja , provocando a discussão , partindo para o bom combate da História em quadrinhos , BD ou HQ : aliando o texto e a imagem é um genre de literatura ! Está no nosso inconsciente folclórico mundial, para usar o conceito do magistral Arthur Ramos , a história em quadrinhos , no Brasil , ganhou feição e qualidade . Poderemos qualificar a origem da representação entre a arte visual dos quadrinhos e o bom texto com : Will Eisner , que foi um precursor , mas , tb , com Art Spielgeman com” Maus ” , consagrado com o Pulitzer de 1992 …”. Não há arte sem liberdade FERNANDO GOMES

Recordações da Infância e Juventude

Na minha infância e juventude, tinha o exemplo dos meus pais que gostavam muito de ler e compravam livros para crianças, ainda hoje tenho estas relíquias. Papai assinava “ Seleções “ e revistas como O Cruzeiro, Revista de Esportes, Veja , Isto é e tantas outras. No Colégio Imaculada Conceição das irmãs Franciscanas Portuguesas, eu como aluna do internato, era muito estimulada a leitura. Inesquecível o livro que li aos 13 anos: “ Também sou seu pai “ que me deixou fascinada pela leitura. Quando fui estudar o curso científico no antigo Colégio Padre Félix em Recife, tive a feliz oportunidade de conviver com o poeta Sinval Pelegrino que me estimulou para escrever poesia e a compor música popular brasileira. Temos inesquecíveis que não voltam mais. Abraço fraternal para o confrade Benedito Ramos e para todos os participantes deste seleto grupo. ROSIANE RODRIGUES

About Maurício de Macedo

Poeta, médico-auditor e professor universitário, nasceu em Maceió, Alagoas, em 1954. Bibliografia: Cinzel da Língua (1996), Sínteses da sombra (1997), Aventuras da Negra Fulô (1998), Esfinge Caeté (1999), Onde a vida fere mais fundo (1999), A palavra feito brasa (2000), Canção dos Orixás (2001), A poesia no cordão seguido de Pastoril (2002), A ostra e a pérola (2003), Das Alagoas seguido de Guerreiro (2003), Tear da palavra (2004), Escorial de açúcar (2004), À beira do silêncio (2005), A água e a pedra (2005), Epifania (2006) e À sombra das palavras (2006).

COMENTÁRIOS
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  1. chantal frazão

    Meus pais nunca me compraram gibis! Quando meus filhos eram pequenos, comprei para eles todos os gibis do mundo. Para meus pais, os gibis não representavam a cultura. Acontece que quando ganhei meus filhos aqui no Brasil, eu lhes ofereci um monte de revistas da Turma da Mônica! O que acontece é que meu filho caçula, o alagoano Dimitri, motivado pela leitura dos gibis, resolveu estudar DESENHO ANIMADO na conceituada faculdade CALARTS (California Institute of Art), fundada por Walt Disney. Dimitri, passou 5 anos estudando, se formou e obteve um mestrado. Depois disso, ele cursou numa outra faculdade para se tornar um engenheiro em informática. Hoje, Dimitri trabalha na Amazon. Ele desenvolve videogames e mora em New York. Faz 21 anos que ele vive nos EUA. Isso prova que os gibis foram essenciais na sua formação!

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    1. Letras de Alagoas Post author

      LEIA O ARTIGO ANTES DE CRITICAR.TODOS OS AUTORES SÃO ⁹UNÂNIMES CARTOON OU GIBI É LITERATURA

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