AQUI É O MEU LUGAR
   22 de maio de 2023   │     15:19  │  0

Não pensei que esse momento poderia chegar, afrontando minhas convicções, meus conceitos, minha vontade de aqui estar. É difícil, até inconcebível, aceitar essa insatisfação e insegurança, essa mudança de paradigmas, que me invade com tamanha violência deixando-me nesse estado de total desconforto.


Não me refiro ao plano pessoal, mas ao que interfere diretamente nele, em toda a minha vida, e no lugar em que vivo, onde nada mais acontece de acordo com os meus princípios, com tudo o que acredito e desejo, não só para a minha vida, mas para todos os que aqui vivem e, assim como eu, tornaram-se vítimas dessa situação desconcertante.
“Aqui é o meu país… Me diz, me diz, como ser feliz em outro lugar?” Não imagino o que Ivan Lins pensava quando escreveu a música “O meu país”. Talvez, por ela não ser tão atual, ele divagasse, imaginando e acreditando que só aqui, seria feliz.
Hoje, sou eu quem pergunto, esperando encontrar respostas plausíveis que me deem alento e, quem sabe, possam até me fazer mudar de opinião.
São inúmeros os questionamentos, as constatações assustadoras, as perspectivas nefastas, aterrorizantes que se apresentam, transformando o nosso país em um barco sem rumo, com uma tripulação de piratas.
Fico bastante apreensivo e incrédulo, ao lembrar que já vi esse filme, já vivi essa experiência. Fomos vítimas de saques e desmandos, cujas consequências não foram ainda esquecidas. A nossa atual situação, caso essa trajetória não altere seu rumo, nos fará reviver essa viagem.
Sinto-me órfão, perdido num emaranhado de armadilhas, onde o sentimento que impera é o medo. Medo de falar, de se posicionar, de transitar, sem saber onde pisar, pois as armadilhas estão onde menos se espera, sempre, estrategicamente fincadas, com o objetivo de surpreender, capturar, silenciar, arbitrariamente, quem ousar discordar ou impedir todo e qualquer pensamento ou ato em oposição à atual situação.
Em sentido figurativo, posso afirmar que faço parte da tripulação de um barco, desgovernado, atravessando uma tempestade recorrente, sem amarras, aguardando o momento em que serei lançado para fora da embarcação e morrerei afogado nesse mar de águas sujas.
Ansioso, busco alternativas, possibilidades reais e concretas, não fantasiosas, que mostrem como ser possível atravessar essa tempestade, recuperar a bússola perdida ou roubada e retomar o rumo desejado.
São muito poucos os fatores que ainda me estimulam e amenizam os sentimentos que se apossaram de mim, nemomento. O principal deles, do qual não abro mão, é meu direito de pensar. Posso até não poder expressar meu pensamento e, por isso, estar revoltado, mas nunca serei um alienado, jamais perderei o senso crítico de análise e a capacidade de discernir entre o certo e o errado, além de entender, de forma bastante clara, o que quero para a minha vida e para o meu país.
Ter consciência de que temos instituições legítimas, sólidas, e uma Constituição, até certo ponto, bem elaborada, que deveria dar segurança e sustentabilidade ao povo e ao país é um fato incontestável. Infelizmente, na prática, isso não ocorre.
Nossas leis são interpretadas com base em interesses tendenciosos consequentemente, deturpadas, desvirtuadas e o nosso regime de governo, que oficialmente é o presidencialista, apoia-se em uma Constituição modificada para atender ao regime parlamentarista e, para completar essa salada, vivemos, de fato, em um terceiro regime, a monarquia, cuja semelhança com anarquia é, simplesmente, uma questão de semântica.
Infelizmente, nenhum sistema ou instituição se faz por si próprio. São pessoas, que respondem pelos cargos e funções, que são responsáveis pela construção de sua imagem, força e poder. Havendo honestidade, respeito, responsabilidade e cumprimento dos deveres na condução dos seus destinos, tornar-se-ão respeitáveis e terão a credibilidade e a confiança da população. Em caso contrário, tornar-se-ão desacreditados, Instalar-se-á a desconfiança e a insegurança, maculando a imagem de instituições tão sérias e importantes para a nação. Essas sim, são, verdadeiramente e na real expressão da palavra, ações antidemocráticas.
Infelizmente é essa a nossa realidade hoje, e que me faz pensar quão impotente eu me sinto neste momento, na atual conjuntura.
Onde estão e o que fazem os legisladores, os políticos, eleitos por nós para serem nossos representantes, responsáveis por criarem e aplicarem as leis que deveriam nos dar proteção e segurança? Onde estão nossas forças armadas e que forças demonstram realmente ter, que garantias nos apresentam em relação à manutenção da ordem, da defesa e da justiça, do país e do povo brasileiro?
Creio não haver necessidade de responder a essas questões. A clareza das respostas está evidente, demonstrada nas reações, no comportamento no medo e na insegurança da população.
Dançar de acordo com o ritmo e a melodia, definidos por quem realmente entende de música, deixou de ser a regra. Hoje temos que dançar reproduzindo passos e movimentos, independente dos padrões instituídos, determinados por leigos no assunto ou, no mínimo, por incompetentes irresponsáveis, descomprometidos com a moral e os bons costumes.
Acabou o respeito, a confiança, instituiu-se a insegurança e o autoritarismo desregrado. Sinto que é chegada a hora de partir, deixar esse país que um dia, com muito orgulho, pensei e cantei bem alto dizendo e batendo orgulhosamente no peito: “Aqui é o meu país…” e “Não há quem não morra de amores pelo meu lugar.

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About Alfredo Gazzaneo Brandão

MEMBRO EFETIVO DA ACADEMIA ALAGOANA DE LETRAS e da ACADEMIA DOS ENGENHEIROS ESCRITORES DE ALAGOAS, com 03 livros escritos participação em várias coletâneas além de trabalhos técnicos publicados em revistas especializadas. Membro e, posteriormente, Vice Presidente e Diretor Musical da ORGANIZAÇÃO CULTURAL SERENATA DA PITANGUINHA, de 1994 a 2021, com vários discos autorais gravados.

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