Na Antiguidade grega, Aristóteles soltou uma pérola: é preferível uma mentira que convença a uma verdade que não convença. A passagem está no capítulo XXIV da sua “Poética”. Surpreendentemente, esse raciocínio do filósofo, praticamente um axioma, vem como uma luva para vestir a mão dos dias de hoje, quando se fala tanto de “fake news”.
Ora vejam! Verossimilhança de uma trama narrativa, discutida na Idade Antiga, casa-se muito bem com a noção de “pós-verdade” de agora. Qual a diferença entre os conceitos? Praticamente nenhuma. Aliás, a mentira, se bem urdida – ou, para continuarmos com Aristóteles, se convincente -, é verdadeira, no duro. Estamos num momento histórico em que não vale mais a pena perder tempo com discussões sobre a verdade como tema, pois verdadeiro é o que nos convence.
Se ainda há quem acredite que o Brasil, país imaginário, ao menos tão vocacionado para fazer mentiras passar por coisas legítimas, vai virar um país comunista (só quem não conhece a fúria das nossas elites pode crer numa coisa risível dessas), então é melhor considerar logo que os limites entre o falso e o verdadeiro, como diria a boa lógica aristotélica (que ainda não conhecia o Brasil), são o reino da vanidade, que é um disfarce da certeza.
Acredita, leitor, no que dizem os jornalistas do Instagram, ou os chamados “influencers” ou, ainda, os filósofos de plantão? Pois, se acredita, é bom mesmo ficar do lado da mentira e acreditar nela, porque a mentira de hoje é a verdade de daqui a pouco e vice-versa. Não perca tempo com isso, leitor!
A verdade é um ideal grego, não há dúvida, enquanto a mentira, um simulacro, doido para virar verdade, mas só porque verdade ainda é um termo sedutor e prestigioso.
E assim vamos vivendo. Melhor mesmo é sentar-se no sofá e assistir à telenovela do horário das 21 horas. Corre-se menos risco de endoidecer.