Caso alguém goste de comida, música, danças, lendas e mitos que tenham relação com uma região ou lugar, esse conjunto de expressões culturais populares que englobam aspectos da identidade local, regional ou nacional, essa pessoa pode até não reconhecer, mas gosta de folclore. Os exemplos são as cozinhas típicas, como a baiana, com suas moquecas, acarajés, abarás, o caruru e o vatapá. No restante do Nordeste, a carne de sol, a buchada, o sarapatel. A cozinha mineira, com seus leitões à pururuca e o tutu de feijão. No Sul o pinhão assado, o barreado e o churrasco. No Centro-Oeste a galinhada e o arroz com pequi. No Norte, a maniçoba, o tacacá e o pato ao tucupi.
A feijoada, ícone nacional, é reivindicado pelo Sudeste, e embora exista o consenso de que é um prato oriundo do aproveitamento dos restos de carnes consumidas nas Casas Grandes e utilizados para engrossar o feijão dos escravos, a sua naturalidade é controversa, pois no Rio de Janeiro usa-se o feijão-preto e em Pernambuco, o mulatinho. Sem demérito para nenhum dos dois, ambos são saborosíssimos. Fato é que isso não é uma peculiaridade nacional: na Europa, cada país tem uma culinária regional típica, cada uma delas mais apetitosa.
A música e a dança típicas têm influenciado fortemente a cultura erudita, pois grande parte das óperas são derivadas de lendas locais, principalmente na Itália, sede de seus maiores compositores. Essa influência extrapola fronteiras, como mostra “O Anel dos Nibelungos “, ciclo de quatro óperas épicas do compositor alemão Richard Wagner, que são adaptações dos personagens mitológicos das sagas nórdicas. Seria algo assim como o Tom Jobim usar o nosso Saci-pererê, a Mula sem Cabeça, a Cuca e o Curupira para fazer uma ópera. Certamente seria espetacular.
Foi inspirado nesse universo amplo que preserva as nossas raízes culturais que o mês de agosto é dedicado ao folclore, que também é uma profícua fonte de renda para a população e para o Estado. Dessa forma, a sessão mensal da Academia Alagoana de Letras recebeu a professora e museóloga Carmen Lúcia, que dissertou magnificamente sobre Theo Brandão, um médico e antropólogo alagoano que além de escrever várias obras premiadas sobre o tema, fez parte da 1ª Comissão Nacional do Folclore.
Em uma sessão realizada com a Casa de Jorge de Lima superlotada e aberta com uma poesia declamada pelo honorável médico Milton Hênio Gouveia, como é a sua praxe, Carmen Lúcia apresentou o seu profundo conhecimento do assunto e sua rica experiência pessoal com Theo Brandão, uma referência situada ao mesmo nível de Câmara Cascudo. E para demonstrar que a Academia Alagoana de Letras está atenta à contemporaneidade e disposta a colaborar com a preservação da essência da cultura nacional, a preocupante questão da estilização das Quadrilhas Juninas foi levantada pela acadêmica Heloísa Moraes. A Casa de Jorge de Lima está muito viva e muito atuante.