Paradoxo da tolerância
   26 de julho de 2023   │     7:16  │  0

Paradoxo da tolerância
A expressão da opinião é uma das bases de sustentação de uma sociedade democrática. Essencialmente, ela garante a todas as pessoas o direito de exprimir a suas opiniões. A pluralidade de uma sociedade concede-lhe uma multiplicidade de pensamentos e daí, é fundamental que essa sociedade democrática conte com um ingrediente básico:a tolerância. É a tolerância, quem determina o que devemos estar dispostos a ouvir e conviver, mesmo que sejam com opiniões e manifestações divergentes das nossas.


Todavia quando essa opinião divergente tem justamente como pano de fundo a intolerância, como quando prega que determinado grupo étnico deve ser suprimido ou que pessoas precisam ser punidas por sua orientação sexual, ou quando incita à violência e o ódio, e mesmo a abolição da democracia, que na essência permite as opiniões e manifestações de divergência, como devemos proceder? Podemos ser tolerantes com os intolerantes?
O filósofo austríaco Karl Popper (1902-1994) debruçou-se sobre esse tema e chegou ao chamado “paradoxo da tolerância”, que apareceu inicialmente em seu livro “ A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”, publicado em 1945 e fruto de suas experiências frente aos movimentos totalitários do século XX . Afinal, a tolerância tem limites?
Para o filósofo, ao aceitar os intolerantes , os tolerantes — e a chamada sociedade tolerante — podem ser levados a destruição. Isso porque uma tolerância ilimitada se torna vulnerável a qualquer tipo de ataque intolerante que se disfarce sob o discurso de liberdade de expressão. Escreveu” A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”.
Para ser tolerante ,então, deve-se em alguma medida ser intolerante: então não há espaço para o debate dessas ideias ou mesmo existência de opiniões divergentes? Karl Poperr responde “Não é bem assim, a prioridade deve ser combater ideários intolerantes com argumentos sólidos e com os fatos .Mas se isso é infrutífero, o combate mais incisivo às filosofias intolerantes,não deve ser uma opção descartada – sobretudo quando a única resposta desse grupo é o discurso de ódio e a violência. Devemos nos reservar o direito de contê-los , se necessário, mesmo que pela força das leis. Pode ser que eles, os intolerantes, não estejam preparados para dialogar nos níveis dos argumentos racionais”.
A intolerância dos grupos extremistas no Brasil já ultrapassou todos os limites , os argumentos, as evidências e os fatos não os contiveram. Eles continuam usando o ódio e a violência para perseguir e intimidar autoridades públicas, sem repeitar nem seus familiares. O Brasil precisa restaurar a institucionalidade democrática e ser pacificado. Com serenidade mas com firmeza tornou-se inevitável e inadiável usar o rigor das leis para coibir essas agressões e hostilidades, sejam às autoridades ou a qualquer cidadão por mais humilde que o seja.
Marcos Davi Melo.

About Marcos David Lemos de Melo

Nascido em Palmeira dos Índios em 03/12/1949. Médico especialista em Radioterapia pela Sociedade Brasileira de Radioterapia /AMB. Chefe do Serviço de Radioterapia da Santa Casa de Misericórdia de Maceió. Professor Titular de Oncologia da UNCISAL, aposentado. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Radioterapia.1º Secretário da Mesa Administrativa da Santa Casa de Maceió. Membro titular da Academia Alagoana de Letras, com acento na cadeira de número 26. Membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Membro Fundador da Academia Alagoana de Medicina. Livros Publicados: Pelos Caminhos da Vida; O Pinto No Passo; Pedacinhos Coloridos de Saudades; Os Sete Coqueiros. Articulista de Gazeta de Alagoas, desde 1990.

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