EDUARDO BOMFIM
   30 de outubro de 2023   │     2:46  │  0

Certo vez recebi um telefonema do amigo Eduardo Bomfim marcando um encontro num café. Para surpresa ele me convidou a ser seu assessor durante o mandato de vereador em Maceió. Me senti honrado mas, ponderei, ele ser do Partido Comunista do Brasil e eu um liberal, embora tivesse simpatia com alguns propósitos da esquerda, como a justiça social, eu era à favor da livre iniciativa, do empreendedorismo e além do mais, um Capitão do Exército, embora reformado. O Partido não iria me rejeitar? Naquela calma e poder de persuasão, falou que, antes de tudo, ele era um democrata, aceitava ideias contraditórias, gostava de argumentar suas razões. Já havia consultado o Partido que aprovou meu nome, um técnico como assessor. O convite fora feito, por eu ter exercido vários cargos na Prefeitura e ser conhecedor dos problemas e das soluções da cidade, queria realizar um mandato participativo, ouvir o povo, fazer um trabalho em direção aos mais carentes, principalmente a cultura popular. Aceitei imediatamente, faria aquele trabalho junto ao Bomfim até como voluntário, pois ele era um dos políticos alagoanos da maior credibilidade.


Desse dia em diante começamos a planejar e viabilizar projetos, ele me dava carta branca para o trabalho técnico e principalmente ouvir a população em seus anseios da comunidade.
Problemas nos bairros, eu fotografava e dava entrada direto nas secretarias, cobrava, eles resolviam os problemas. Gratificante e inesquecível trabalhar com o Bomfim. Todos os dias nos encontrávamos para avaliação de trabalho e projetos em andamento. Foi iniciativa de Eduardo Bomfim um projeto cultural de maior sucesso na cidade. Transformamos a Rua da Praia em Rua Shopping às sextas-feiras. Fechávamos a rua aos carros, as lojas ficavam abertas e muita apresentação cultural nas ruas. O Prefeito Ronaldo Lessa deu total apoio. Eu conversei e convenci com todos os moradores e donos de loja da rua da Praia. Até hoje o projeto Rua da Praia – Rua Shopping é lembrado. Eduardo certa vez mandou que a assessoria escrevesse um rascunho da Lei de Incentivo à Cultura. Em pouco tempo, adaptamos as leis de outros municípios, a Lei da Cultura foiaprovada na Câmara de Vereadores. Mas nunca regulamentada. Uma lei tão importante numa cidade tão rica em cultura popular e tão pobre para manter essa cultura. Foi muito trabalho durante o mandato que fazíamos com convicção.
Eduardo Bomfim foi figura de destaque da geração inquieta dos anos 60/70, que testemunhou e participou da revolução dos costumes, da cultura, da luta contra preconceitos do mundo. Foi a vitória da humanização e da minoria oprimida, principalmente as mulheres.
Eduardo Bomfim foi figura de destaque da geração inquieta dos anos 60/70, que testemunhou e participou da revolução dos costumes, da cultura, da luta contra preconceitos do mundo. Foi a vitória da humanização e da minoria oprimida, principalmente as mulheres.
Bomfim mostrou, quando presidiu a Fundação Cultural Cidade de Maceió, que tinha tino administrativo e visão do futuro, encaminhando diversos projeto ao Ministério da Cultura. Fez uma administração marcante para a cultura maceioense. O que mais se precisa nessa Brasil é de gente honesta como o Bomfim. O resto se resolverá.Mas, foi uma pena, essa semana Alagoas ficou de luto, recebi com profunda tristeza a notícia da morte de Eduardo Bomfim. Deu uma dor no peito pelo amigo que se foi, a figura humana que Alagoas perdeu. Resta apenas citar os versos do poeta John Donne que diz mais ou menos assim:
“Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
Ouço os sinos dobrando pelo Bomfim, pelos amigos, por Alagoas. Por todos nós. Difícil um homem do porte ético, político e intelectual de Eduardo Bomfim. Até mais, amigo velho!

About Carlos Roberto Peixoto Lima

Nasceu na cidade de Maceió, na Avenida da Paz. Fez o Curso primário e secundário no Colégio Diocesano (Marista). Cursou a Escola Militar e terminou a Academia Militar das Agulhas Negras em 1961 Serviu como Tenente do Exército Brasileiro em Salvador, no Recife (quando aconteceu o Golpe de 1964), ainda como tenente foi transferido para 9ª Companhia de Fronteiras em Roraima, fronteira com a Guiana Inglesa e Venezuela. Onde fez o Curso de Guerra na Selva (CIGS) Como Capitão serviu no 20º Batalhão de Caçadores em Maceió. Terminou a Faculdade de Engenharia em 1971. Foi eleito Prefeito do município de Barra de São Miguel (1973-1977). Ao deixar a política dedicou-se à construção civil, com inúmeras obras em Maceió. Foi contratado como engenheiro da Prefeitura de Maceió, onde exerceu várias funções. Sempre dedicado à cultura e à leitura editou seu primeiro livro em 2001, CONFISSÕES DE UM CAPITÃO, sucesso em todo Brasil depois de ser entrevistado pelo Jô Soares. Não parou mais, escreve uma coluna semanal: HISTÓRIAS DO VELHO CAPITA. Recentemente lançou a Trilogia das Lagoas, com os romances: Manguaba, Mundaú e Jequiá. EMAIL: [email protected]

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