Paradoxo da tolerância
A expressão da opinião é uma das bases de sustentação de uma sociedade democrática. Essencialmente, ela garante a todas as pessoas o direito de exprimir a suas opiniões. A pluralidade de uma sociedade concede-lhe uma multiplicidade de pensamentos e daí, é fundamental que essa sociedade democrática conte com um ingrediente básico:a tolerância. É a tolerância, quem determina o que devemos estar dispostos a ouvir e conviver, mesmo que sejam com opiniões e manifestações divergentes das nossas.
Todavia quando essa opinião divergente tem justamente como pano de fundo a intolerância, como quando prega que determinado grupo étnico deve ser suprimido ou que pessoas precisam ser punidas por sua orientação sexual, ou quando incita à violência e o ódio, e mesmo a abolição da democracia, que na essência permite as opiniões e manifestações de divergência, como devemos proceder? Podemos ser tolerantes com os intolerantes?
O filósofo austríaco Karl Popper (1902-1994) debruçou-se sobre esse tema e chegou ao chamado “paradoxo da tolerância”, que apareceu inicialmente em seu livro “ A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”, publicado em 1945 e fruto de suas experiências frente aos movimentos totalitários do século XX . Afinal, a tolerância tem limites?
Para o filósofo, ao aceitar os intolerantes , os tolerantes — e a chamada sociedade tolerante — podem ser levados a destruição. Isso porque uma tolerância ilimitada se torna vulnerável a qualquer tipo de ataque intolerante que se disfarce sob o discurso de liberdade de expressão. Escreveu” A tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. Se estendermos a tolerância ilimitada mesmo aos intolerantes e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”.
Para ser tolerante ,então, deve-se em alguma medida ser intolerante: então não há espaço para o debate dessas ideias ou mesmo existência de opiniões divergentes? Karl Poperr responde “Não é bem assim, a prioridade deve ser combater ideários intolerantes com argumentos sólidos e com os fatos .Mas se isso é infrutífero, o combate mais incisivo às filosofias intolerantes,não deve ser uma opção descartada – sobretudo quando a única resposta desse grupo é o discurso de ódio e a violência. Devemos nos reservar o direito de contê-los , se necessário, mesmo que pela força das leis. Pode ser que eles, os intolerantes, não estejam preparados para dialogar nos níveis dos argumentos racionais”.
A intolerância dos grupos extremistas no Brasil já ultrapassou todos os limites , os argumentos, as evidências e os fatos não os contiveram. Eles continuam usando o ódio e a violência para perseguir e intimidar autoridades públicas, sem repeitar nem seus familiares. O Brasil precisa restaurar a institucionalidade democrática e ser pacificado. Com serenidade mas com firmeza tornou-se inevitável e inadiável usar o rigor das leis para coibir essas agressões e hostilidades, sejam às autoridades ou a qualquer cidadão por mais humilde que o seja.
Marcos Davi Melo.