Author Archives: Eliana Cavalcanti

About Eliana Cavalcanti

Nasceu em Maceió/Alagoas e aos dois anos de idade passou a morar em Olinda-Pernambuco. Aos oito anos iniciou seus estudos de balé em Recife, aos quinze anos passou a ensinar balé na sua escola. Atuou como primeira bailarina do Grupo de Ballet do Recife. Em 1973, casou-se e passou a residir em Maceió, onde fundou o Ballet Eliana Cavalcanti e, em 1981, o Ballet Íris de Alagoas (1981-2002). Bailarina, coreógrafa e mestra com 57 anos dedicados ao ensino do balé, Eliana também é escritora e Mestra em Literatura pela Universidade Federal de Alagoas (2009) e sócia efetiva da Academia Alagoana de Letras, desde 2012. É autora de três livros e organizou um outro. Tem diversos contos, crônicas e artigos publicados em jornais, revistas literárias e sete antologias. Dentre seus prêmios e distinções, destacam-se: Medalha Jorge de Lima ( Governo de Alagoas/ 1995), Prêmio Concorrência FIAT/1990 com o espetáculo “Certas Emoções”; 2º lugar em coreografia (Bento Gonçalves - RS-1995); diploma de Benemérita das Artes (SECULTE /2001); Comenda Mário Guimarães (Câmara dos Vereadores /2002), Diploma de Construtores da Dança em Pernambuco (Conselho Brasileiro de Dança /2004); Membro da Ordem do Mérito dos Palmares, no grau de Oficial (Governo de Alagoas/2008), Comenda Senador Arnon de Mello (Instituto Arnon de Mello/ 2008); Comenda Nise da Silveira (Governo de Alagoas/2013); Prêmio “Mulheres que escrevem” ( SECULTE/ 2023).

O tiro saiu pela culatra
   21 de agosto de 2023   │     3:22  │  0

Lá pras bandas de Pindoba, conheci uma viúva, dona de uma carvoaria. Atendia a freguesia com certa presteza. Como era muito dentuça, os seus dentes alvos, sempre à mostra, estavam permanentemente contrastando com o pó preto que a envolvia. Criou a filha, Maria Rosa, como princesa, longe do carvão. Dizia sempre: “E isso é vida! Sempre suja, sempre suja!”. Quando a menina ficou mocinha, a sua preocupação era casá-la com alguém de melhores condições. Não queria que a filha tivesse o mesmo destino que o seu.

Continue reading

“Pra calçada, véinha!“… Eu não dei por esta mudança,tão simples, tão certa, tão fácil:(Cecília Meireles)
   5 de junho de 2023   │     11:24  │  6

A maturidade me trouxe a convicção de certas ideias que eu já considerava como certas. Eu me refiro, neste momento, à nossa jornada aqui na terra. Para uns, a estrada é curta; já para outros, ela pode ser longa ou esticada até demais. Eu gostaria que a minha fosse longa, porém, produtiva, consciente e participativa. Quando vivemos muito, as nossas referências vão partindo e nos deixando, uma a uma. Os que ficam não fazem parte da nossa história anterior, aquela história de quando éramos crianças, adolescentes ou adultos jovens, cheios de entusiasmo e de garra.

Continue reading

O AMOR NA ARTE DA DANÇA CLÁSSICA
   10 de maio de 2023   │     12:12  │  1

“Quando fala o amor, a voz de todos
deuses deixa o céu embriagado.”
William Shakespeare

Certa vez, estava dando uma aula de balé para adultos iniciantes e comecei a explicar a importância da questão postural na Dança Clássica. Falei que todos deveriam prender o baixo abdome e, ao mesmo tempo, imaginar que a tal região seria como uma caldeira dos navios antigos. Dessa fornalha deveriam sair chamas que subiriam elegantemente passando pelo umbigo, por entre os seios, pelo nariz e brilhariam ao sair pelo topo da cabeça, se transformando num feixe de luz. Um dos alunos presentes, falou de imediato: “Consigo ver o meu feixe de luz. Ele é lilás brilhante!” Daí, como se todos fossem crianças, começaram a brincar com o imaginário. Ao tentar escrever algo proveitoso sobre o belo sentimento do amor, fechei meus olhos e fiquei a imaginar de que cor e forma seria o amor que trago comigo. Sem muito esforço me vieram bolinhas translúcidas e multicoloridas como as de sabão que brincávamos quando crianças. Assim como meus alunos tiveram cores em nuances diferentes sobre aquele fio condutor da postura, o amor, esse sentimento vital e universal, se manifesta de maneira singular, pois cada um o sente à sua maneira. E, pela mesma pessoa, também em formas diferentes, dependendo do objeto amado ou do momento.

Continue reading

Adelaide
   5 de abril de 2023   │     1:20  │  1

 

Onde está Adelaide? Essa pergunta ecoava pelos corredores e oitões da casa, sempre que a menina desaparecia das vistas do mundaréu de gente que vivia naquela propriedade. Todas as filhas do seu Manoel Ignácio tinham medo dos gritos e ordens do pai. Só não aquela sapeca destemida que o pai tentava, em vão, trazê-la a rédeas curtas. Escorregadia, teimosa, desobediente, porém carinhosa e cheia de artimanhas, sabia como engazopar o seu Manoel.
Adelaide vivia o hoje, sempre escapulindo das obrigações diárias que o pai, viúvo convicto – jamais aceitou casar outra vez, por achar que já tinha mulher demais na sua vida –, distribuía para as oito filhas, com o intuito de ensinar-lhes o que era dever e obrigação, preparando-as, naturalmente, para que fossem boas esposas. Adelaide, a caçulinha, passava o dia lendo ou subindo em árvores. Um enorme cajueiro era a sua árvore favorita que, com seus pingentes dourados, ouvia as suas queixas e sonhos. E o pai ralhava: “Adelaide, desça daí, parece uma moleca! Venha ajudar suas irmãs!”.

Continue reading

Tags: